O ser humano sempre teve como característica o facto de se questionar e, por isso mesmo, interrogarmo-nos acerca daquilo que nos rodeia é tão inevitável quanto natural. Tudo é motivo de questão, quer seja o ambiente em que nos inserimos, os nossos actos, pensamentos ou idealizações. Não existem razões concretas, a possibilidade de diferentes escolhas e caminhos é aquilo que nos leva a um exercício de interrogação. Perguntamo-nos e conversamos diariamente com o nosso interior, com a nossa consciência, ainda que o propósito nos possa ser exterior. De facto, aquilo que nos intriga pode tanto ser algo importante, banal, próprio e/ou universal. Não importa. O que realmente conta é uma decisão, e sim, é isso que nos move e determina o decorrer da nossa vida. O caminho que seguimos é traçado autónomamente, ainda que existam influências e impulsos. Na verdade, todos eles são fruto daquilo que julgamos melhor, ainda que momentâneamente.
O descontentamento surge, as opções invadem-nos, e as diferentes consequências que os caminhos ditam levam-nos a recorrer aos nossos valores, à nossa moral e à nossa própria personalidade. O que decidimos demonstra sempre uma parte de nós, pois as escolhas, sejam elas quais forem, têm sempre um lado subjectivo. Existem escolhas fáceis, outras mais complicadas, e também existem grandes dilemas, que por vezes nos tiram o sono e persistem eloquentemente no nosso pensamento, dia após dia, travando uma batalha difícil de terminar. No entanto, seja qual for a gravidade do que nos corrompe, o que é certo é que as coisas se modificam, pois somos incapazes de nos conformar, quietos e impávidos, perante um problema - o ser humano busca sempre o aperfeiçoamento.
Acontece que, muitas vezes, e após nos movermos perante determinada dúvida, julgamos que poderíamos ter feito tudo de forma diferente. De facto, poderíamos, mas no momento em que se agiu foi essa a posição por nós tomada. Portanto, de nada nos vale arrependimentos. Temos que saber encarar as nossas acções, lidar com elas, e, mesmo que mais tarde se revelem erradas, o que importa é o que fazemos para redimir os nossos actos. Voltar atrás é-nos totalmente impossível, pois a vida não pára, e balança numa constante correria, que não descansa, nem por um segundo.
Interrogarmo-nos tem uma natureza tão inocente quanto essencial. Inocente, pois ocorre de forma inevitável, é quase que um comportamento irracional, que, no entanto, dispende de bastante racionalidade. Essencial, por outro lado, pois é graças a dúvidas que surge a investigação, a procura, e claro, o mais importante de tudo: o conhecimento.
Saber e querer aprender, buscar informação, debater, reflectir... Todos eles são exercícios indispensáveis ao ser-humano, pois são eles que nos caracterizam, são eles que nos distinguem. Somos capazes de armazenar pormenores, cheiros, imagens, ambientes, mas isso é banal. O que nos torna superiores é o facto de os analisarmos, é o facto de pensarmos e podermos desenvolver e aprofundar os nossos pensamentos. Graças a reflexões construímos não só aquilo que somos - tornamo-nos indivíduos - mas também nos tornamos aptos para interagir com o mundo, com os outros, e de nos afirmarmos e formarmos pontos de vista, ideias, que quando partilhadas poderão provocar impacto, mudanças, melhorias - ser cidadão.
Não vamos ignorar aquilo que nos incomoda e inquieta. Não vamos negar as nossas dúvidas e preocupações, as nossas angustias e aspirações. Vamos pensar. Vamos desejar. Vamos aprender. Só assim conseguiremos evoluir e conquistar alguma importância, de consciência tranquila.